Archicad ou Revit: Qual é o melhor software BIM para seu projeto?

No cenário atual da arquitetura, engenharia e construção, adotar a metodologia BIM (Modelagem da Informação da Construção) deixou de ser uma tendência para se tornar uma exigência do mercado. Com isso, a escolha do software adequado para trabalhar dentro dessa metodologia passou a ser uma decisão estratégica para profissionais, empresas e estudantes da área.

Entre os diversos programas disponíveis, dois se destacam como líderes globais: Archicad, desenvolvido pela Graphisoft, e Revit, da Autodesk. Ambos oferecem soluções robustas para modelagem, documentação, compatibilização e colaboração em projetos, mas apresentam diferenças importantes em termos de interface, filosofia de uso, performance e integração com outras disciplinas.

Neste artigo, vamos analisar os principais aspectos que envolvem a escolha entre Archicad e Revit. Abordaremos desde o histórico de cada ferramenta até questões como curva de aprendizado, desempenho técnico, licenciamento e demanda no mercado de trabalho. Nosso objetivo é oferecer uma visão clara e objetiva para ajudar você a tomar a melhor decisão de acordo com o seu perfil, suas necessidades profissionais e o tipo de projeto que desenvolve.

Vamos aprofundar essa análise nos tópicos a seguir.

1. Introdução ao conceito BIM

BIM, sigla para Building Information Modeling (Modelagem da Informação da Construção), é uma metodologia que revoluciona a forma como projetamos, construímos e gerenciamos edificações. Diferente do desenho técnico tradicional em CAD, o BIM permite a criação de modelos digitais tridimensionais inteligentes, que integram não apenas a geometria da edificação, mas também dados e informações técnicas associadas a cada elemento construtivo.

Essa abordagem proporciona uma visão integrada do projeto, favorecendo a compatibilização entre disciplinas (arquitetura, estrutura, instalações), redução de erros, maior previsibilidade orçamentária e eficiência na execução da obra. Além disso, o BIM também se estende para o ciclo de vida do edifício, auxiliando na operação e manutenção após a conclusão da construção.

No Brasil, a adoção do BIM tem ganhado força principalmente nos últimos anos. Com a Estratégia BIM BR, instituída pelo Governo Federal, a utilização da metodologia passou a ser obrigatória em etapas específicas de projetos públicos desde 2021, com previsão de ampliação gradual até 2028. Isso tem impulsionado o mercado a buscar capacitação e implementação de soluções BIM, tanto no setor público quanto no privado.

Fonte oficial (Planalto):

📄 Decreto nº 10.306, de 2 de abril de 2020
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2020/decreto/D10306.htm


📌 Resumo das fases (Art. 4º):

  • Fase 1 – A partir de 1º de janeiro de 2021:
    Uso do BIM em projetos de arquitetura e engenharia para construções novas, ampliações ou reabilitações.
  • Fase 2 – A partir de 1º de janeiro de 2024:
    BIM obrigatório para projetos que envolvam também estruturas, instalações e detecção de interferências.
  • Fase 3 – A partir de 1º de janeiro de 2028:
    Aplicação do BIM na execução da obra, incluindo planejamento, orçamento e gestão do empreendimento.

Em todo o território nacional, escritórios de arquitetura, empresas de engenharia e construtoras estão cada vez mais atentos à necessidade de modernizar seus processos, buscando maior produtividade, assertividade e controle técnico. Nesse cenário, o domínio de ferramentas BIM deixou de ser um diferencial para se tornar uma exigência crescente no mercado brasileiro de AEC (Arquitetura, Engenharia e Construção).

Dentre os diversos softwares disponíveis, Archicad e Revit se destacam como as plataformas mais consolidadas. Ambos oferecem recursos para modelagem, documentação e colaboração em ambientes BIM, mas com abordagens e funcionalidades distintas. Compreender essas diferenças é fundamental para escolher a ferramenta mais adequada à realidade de cada profissional, equipe ou empresa no contexto do Brasil.

2. Histórico e proposta de cada software

Entre os diversos softwares BIM disponíveis no mercado, Archicad e Revit se destacam como as principais ferramentas utilizadas por profissionais da arquitetura, engenharia e construção. Apesar de ambos seguirem a metodologia BIM, suas origens, filosofias de desenvolvimento e aplicações práticas são bastante distintas — o que influencia diretamente a performance e a produtividade nos projetos.

Archicad – Pioneirismo, fluidez e foco no arquiteto

Lançado em 1984 pela Graphisoft, o Archicad foi o primeiro software a implementar o conceito BIM de forma estruturada, muito antes da popularização do termo. Desde o início, sua proposta foi clara: entregar uma solução voltada à arquitetura, com ênfase no controle gráfico, liberdade criativa e desempenho técnico. Sua interface intuitiva, aliada a recursos robustos de modelagem paramétrica e documentação automática, torna o Archicad uma ferramenta poderosa e confiável para o arquiteto — do estudo preliminar ao executivo.

Além disso, o Archicad é conhecido por sua estabilidade, performance com grandes arquivos e interoperabilidade com outros softwares via IFC. O foco da Graphisoft em desenvolver um ambiente fluido e responsivo proporciona ao usuário maior autonomia e menos dependência de correções manuais, especialmente em projetos complexos.

Revit – Integração forçada e dependência de fluxos paralelos

O Revit, lançado em 2000 e adquirido pela Autodesk em 2002, veio com a proposta de reunir em uma única plataforma as disciplinas de arquitetura, estrutura e instalações (MEP). Embora essa ideia de “colaboração multidisciplinar” pareça promissora na teoria, a realidade prática mostra uma dependência excessiva de fluxos paralelos e de softwares complementares como AutoCAD, Navisworks e Dynamo para alcançar o desempenho esperado.

Na rotina de projetos reais, essa promessa de colaboração integrada muitas vezes não se sustenta. A interoperabilidade interna do Revit exige modelagens extremamente rígidas, com controle complexo de famílias e bibliotecas, o que frequentemente leva a retrabalhos e perda de produtividade. A centralização de tudo em um único modelo pode parecer vantajosa, mas limita a atuação autônoma de equipes, principalmente quando o foco está na qualidade arquitetônica e no controle gráfico.

Para usuários que buscam eficiência no fluxo de trabalho e liberdade de criação, o Archicad se mostra uma ferramenta mais estável, madura e alinhada à prática do arquiteto. Já o Revit, apesar de sua popularidade no Brasil, muitas vezes necessita de ajustes manuais e processos externos para compensar deficiências que não deveriam existir em um software BIM completo.

3. Interface e curva de aprendizado

Um dos principais fatores que impactam diretamente na adoção de qualquer software BIM é a interface e a curva de aprendizado. Afinal, mais do que ser tecnicamente completo, o software precisa ser acessível, lógico e eficiente no uso diário — especialmente em ambientes de escritório onde prazos, produtividade e fluidez contam muito.

Archicad – Interface intuitiva, lógica visual e menor dependência técnica

O Archicad é amplamente reconhecido por sua interface limpa, organizada e orientada ao arquiteto. A lógica de uso é baseada em princípios do desenho arquitetônico tradicional, o que torna o processo de migração de CAD para BIM mais natural. Desde a modelagem até a documentação, o usuário tem clareza visual de cada etapa, com ferramentas posicionadas de forma lógica e acessíveis sem a necessidade de percorrer menus excessivamente técnicos.

Outro ponto forte é que o Archicad permite que o usuário atinja níveis avançados de modelagem e documentação sem depender de linguagens de programação, plugins ou workarounds. Isso reduz a curva de aprendizado, acelera a produtividade e torna o software acessível a equipes com diferentes níveis de experiência — o que é especialmente importante no contexto de escritórios de pequeno e médio porte.

Revit – Interface técnica, curva íngreme e dependência de conhecimento especializado

Por outro lado, o Revit apresenta uma interface mais carregada, com menus extensos e comandos agrupados de forma que muitas vezes não são intuitivos para quem vem do universo da arquitetura. A curva de aprendizado é mais lenta e exige maior esforço inicial, principalmente quando o usuário deseja produzir com qualidade gráfica ou personalizar elementos.

Além disso, tarefas relativamente simples no Archicad — como detalhamentos, cortes ou documentação gráfica — no Revit muitas vezes exigem criações de famílias complexas, ajustes de visibilidade ou até o uso de Dynamo, linguagem visual de programação. Essa dependência de soluções paralelas para atingir qualidade e performance compromete a fluidez do processo e aumenta o custo de capacitação e suporte.

Mesmo para usuários experientes, o Revit pode ser pouco previsível em termos de comportamento gráfico e controle visual, o que leva a constantes revisões e tempo gasto com configurações técnicas que nada têm a ver com o projeto em si.

Archicad (verde): curva mais rápida, com produtividade significativa já na primeira semana.

Revit (azul): crescimento mais lento, exigindo mais tempo até atingir um nível estável de produtividade.

4. Recursos de modelagem e documentação

Os recursos nativos de modelagem e documentação são aspectos cruciais para qualquer software BIM, pois determinam a velocidade, a qualidade e o controle do projeto ao longo de todo o fluxo de trabalho. Neste ponto, tanto Archicad quanto Revit oferecem funcionalidades robustas — porém com abordagens bastante distintas.

Archicad – Modelagem arquitetônica fluida e documentação integrada

O Archicad se destaca por oferecer um ambiente de modelagem mais direto, com ferramentas específicas para elementos arquitetônicos como muros, coberturas, lajes, esquadrias, escadas, guarda-corpos e terrenos. A lógica é centrada no projeto arquitetônico, o que favorece uma modelagem fluida, precisa e com representações gráficas consistentes desde o início.

A documentação é automatizada e inteligente, com controle refinado de cortes, fachadas, detalhes, layouts e tabelas quantitativas. Um ponto forte é o Graphic Override (Sobreposição Gráfica), que permite aplicar estilos visuais diferentes ao modelo com base em regras — ideal para representar fases de projeto, materiais ou estados de conservação, sem duplicar elementos.

Além disso, o Archicad permite que o profissional trabalhe com múltiplas escalas e apresentações simultaneamente, com personalização visual avançada, algo essencial para projetos executivos, apresentações a cliente e compatibilizações gráficas.

Revit – Recursos poderosos, mas dependentes de famílias e configuração

O Revit possui um conjunto robusto de ferramentas, principalmente quando o projeto envolve múltiplas disciplinas. Porém, a modelagem é altamente dependente de famílias paramétricas, que muitas vezes precisam ser criadas ou ajustadas externamente, o que compromete a agilidade para quem está focado na arquitetura.

Outro ponto sensível está na documentação, que exige constante ajuste de visibilidades, templates, filtros de vista e parâmetros de elementos para alcançar a qualidade gráfica esperada. O processo pode ser eficiente, mas demanda tempo técnico e conhecimento específico. Em muitos casos, tarefas que no Archicad são resolvidas com cliques e comandos visuais, no Revit exigem fluxos paralelos, Dynamo ou customizações profundas.

No dia a dia de um escritório, isso impacta diretamente a produtividade da equipe e a capacidade de resposta ao cliente. A dificuldade em obter representações gráficas com qualidade arquitetônica no Revit é uma crítica recorrente, especialmente em projetos que valorizam a estética, o detalhamento técnico e a clareza gráfica.

5. Compatibilidade, IFC e colaboração entre plataformas

No universo BIM, a colaboração entre disciplinas e softwares é uma das maiores promessas da metodologia. Para que isso funcione na prática, é essencial que os programas adotem protocolos abertos e compatibilidade real com diferentes plataformas, garantindo que os dados circulem de forma fiel entre os envolvidos no projeto.

Archicad – Pioneirismo no IFC e compromisso com padrões abertos

O Archicad foi um dos primeiros softwares do mundo a adotar o formato IFC (Industry Foundation Classes) como parte nativa de sua estrutura. Isso significa que o Archicad foi projetado desde o início para operar de forma aberta, permitindo colaboração fluida com qualquer outro software BIM compatível com IFC, como Revit, Tekla, Allplan, Vectorworks, Solibri e outros.

A Graphisoft é membro ativo da buildingSMART, entidade internacional que regula os padrões BIM abertos. O Archicad permite exportação e importação de modelos IFC altamente configuráveis, com opções de mapeamento de parâmetros, visualização personalizada e verificação de consistência. Além disso, a ferramenta BIMcollab integrada permite revisão colaborativa com comentários e BCF, o que torna o Archicad um hub BIM eficiente para compatibilização de modelos — inclusive em projetos multidisciplinares.

Revit – Formato proprietário e interoperabilidade limitada

O Revit, por outro lado, tem como principal formato nativo o .RVT, que é fechado e proprietário da Autodesk. Embora possua suporte ao IFC, esse suporte não é nativo nem prioritário no desenvolvimento do software — e isso reflete na qualidade da exportação/importação, com perdas frequentes de dados, parâmetros e estruturas de elementos. Muitas vezes, o processo exige ajustes manuais, plugins adicionais ou configurações complexas para obter resultados minimamente confiáveis.

Além disso, a colaboração com outras disciplinas no Revit geralmente é pensada dentro do ecossistema Autodesk (AutoCAD, Navisworks, Civil 3D, etc.), o que limita a flexibilidade do escritório ao escolher parceiros ou integrar profissionais que utilizam outros softwares. Esse fator é ainda mais crítico no Brasil, onde o uso de diferentes ferramentas BIM é comum, e o investimento em múltiplas licenças da Autodesk pesa no orçamento de pequenos e médios escritórios.

Colaboração prática: mito ou realidade?

Na teoria, o Revit promove uma “colaboração centralizada”, mas, na prática, essa dependência de arquivos proprietários e fluxo Autodesk-centric cria um ecossistema fechado, que dificulta a interoperabilidade com profissionais externos ao sistema. O Archicad, por ser centrado em padrões abertos e oferecer controle real de exportação IFC, permite que o arquiteto tenha liberdade para escolher as melhores soluções e parceiros, sem amarras técnicas.

7. Custo-benefício e licenciamento no Brasil

No cenário brasileiro, o investimento em software BIM exige análise cuidadosa. Mais do que uma ferramenta, trata-se de um compromisso financeiro contínuo que impacta diretamente a sustentabilidade do escritório a médio e longo prazo.

Comparativo de valores – 2025

SoftwareAssinatura Mensal (12x)Assinatura Anual (à vista)
ArchicadR$ 219 x 12 = R$ 2.628R$ 2.625
RevitR$ 1.545 x 12 = R$ 18.540R$ 12.305

Fontes: Revendas oficiais Graphisoft Brasil e Autodesk. Valores válidos para 2025.

Mesmo considerando os descontos oferecidos na assinatura anual, o Archicad apresenta uma vantagem absoluta e percentual significativa. Seu custo total anual representa apenas cerca de 14% do custo do Revit, mesmo na melhor condição de compra da Autodesk.

Impacto prático para o arquiteto brasileiro

  • O Archicad é acessível para autônomos, pequenos escritórios e equipes iniciantes que desejam atuar com BIM sem comprometer a saúde financeira do negócio.
  • O Revit, embora amplamente utilizado, possui um custo de entrada elevado que pode inviabilizar sua adoção fora de grandes escritórios ou contratos corporativos.
  • Além disso, o Archicad permite uso offline, tem independência de nuvem e flexibilidade de licenciamento.

8. Conclusão: Archicad é a melhor escolha para quem busca autonomia, eficiência e BIM de verdade

Após analisar todos os aspectos – desde curva de aprendizado até custo, desempenho, colaboração e compatibilidade técnica – é evidente que o Archicad oferece a solução mais equilibrada, acessível e poderosa para profissionais que desejam adotar o BIM de forma consistente e sustentável no Brasil.

O Archicad se destaca por:

  • Interface intuitiva e amigável, ideal para arquitetos;
  • Curva de aprendizado rápida e fluida;
  • Colaboração em tempo real com Teamwork, sem custos adicionais;
  • Compatibilidade total com IFC e outras disciplinas via processos abertos;
  • Alto desempenho mesmo em máquinas intermediárias;
  • Custo anual justo e acessível;
  • Licenciamento descomplicado, com possibilidade de uso offline;
  • Comunidade técnica nacional em crescimento e presença consolidada internacionalmente.

BIMx: uma revolução na entrega de projetos

Um dos maiores diferenciais do Archicad é o BIMx, uma plataforma gratuita e multiplataforma para visualização de projetos em 3D e navegação entre plantas e modelos integrados. Com o BIMx, o cliente, engenheiro ou executor pode explorar o projeto em realidade aumentada, diretamente do celular ou tablet, sem precisar instalar softwares pesados ou ter conhecimento técnico.

Essa ferramenta não apenas melhora a comunicação com o cliente, mas acelera decisões de obra, reduz erros de execução e aumenta a confiança no processo projetual.

O Archicad não é apenas um software BIM. É uma filosofia de projeto baseada na liberdade criativa, na precisão técnica e no respeito ao profissional arquiteto.

Se você busca autonomia real, controle total sobre o processo e um modelo de negócio saudável, o Archicad é, sem dúvida, a escolha mais inteligente para a realidade brasileira.